Desilusão: Impasses Clínicos e Políticos diante dos Dilemas de nosso Tempo

Autores

  • Miriam Debieux Rosa Universidade de São Paulo (USP)
  • Patrícia do Prado Ferreira Universidade de São Paulo. Pós-doutorado na FAPESP.
  • Rodrigo Alencar Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v18iEsp.6262

Palavras-chave:

psicanálise, ideal, ilusão, política, resistência

Resumo

Acontecimentos sociais e políticos, nacionais e internacionais, têm abalado nosso cotidiano. Conquistas que pareciam sedimentadas na direção da democracia e nos temas relativos aos direitos humanos, conquistas sociais e considerações éticas na vida política, têm sido substituídas por chavões e discursos de ódio, racismo e xenofobia sob a lógica da guerra. Desse modo, têm sido enfrentados fluxos massivos de imigrantes, frutos de guerras e violências, atentados terroristas e uma tensão cotidiana em que o debate localiza no outro o perigo: generaliza-se a figura do terrorista.  Vamos propor um deslocamento da lógica da guerra a fim de dialogar sobre a queda dos ideais e das ilusões e as dificuldades de traçar direções para o futuro.  Vamos apontar o imbricado enlace entre ética do desejo, política e resistência à instrumentação social do gozo. Entendemos que perder um ideal é diferente de perder uma ilusão, crença ou delírio. A descrença, a desilusão, tem seus efeitos – um deles é agarrar-se à fantasia delirante. A idealização é um processo que envolve o engrandecimento e superestimação do objeto, não dizendo respeito ao ideal. A aflição psíquica nomeada “desilusão” estende-se dos ideais culturais (no plano do ideal-do-Eu) às expectativas do Eu (plano do Eu-ideal). Essa questão nos alerta para o encobrimento de outra ilusão, de autoengendramento, de poder superar a dependência simbólica ao Outro. Diferenciar esses termos nos permite apontar o imbricado enlace entre ética do desejo, política e a resistência à instrumentação social do gozo. Quanto à posição da psicanálise, retomaremos a frase de Lacan em Ciência e verdade (1966/1998): “Por nossa posição de sujeito somos sempre responsáveis. Que chamem a isto como quiserem, terrorismo”.

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Biografia do Autor

Miriam Debieux Rosa, Universidade de São Paulo (USP)

Prof Associada do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Coordenadora do Laboratório Psicanálise, Política e Sociedade (IP-USP).

Patrícia do Prado Ferreira, Universidade de São Paulo. Pós-doutorado na FAPESP.

Pós-doutoranda no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP - Bolsa FAPESP(processo 2015/15215-8). Doutora em Psicologia Social pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Membro do laboratório Psicanálise, Política e Sociedade vinculado à Puc - SP e à USP.

Rodrigo Alencar, Universidade de São Paulo

Psicólogo e psicanalista, doutor em Psicologia Clínica na Universidade de São Paulo, realizou doutorado sanduíche na University of Manchester (UK). Mestre em Psicologia Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC - SP). Membro do laboratório Psicanálise, política e Sociedade vinculado à Puc - SP e à USP, membro do Dicourse Unity (UK). 

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Publicado

11.07.2018

Como Citar

Rosa, M. D., Ferreira, P. do P., & Alencar, R. (2018). Desilusão: Impasses Clínicos e Políticos diante dos Dilemas de nosso Tempo. Revista Subjetividades, 18(Esp), 81–92. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v18iEsp.6262

Edição

Seção

Edição Especial: A psicanálise e as formas do político