A importância da educação na promoção da doação de órgãos - doi: 10.5020/18061230.2012.p251

Autores

  • Taise Ribeiro Morais Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba
  • Maricelma Ribeiro Morais Universidade Estadual da Paraíba

DOI:

https://doi.org/10.5020/18061230.2012.p251

Resumo

O transplante e a doação de órgãos humanos são temas polêmicos que têm despertado interesse e discussões. A falta de esclarecimento e o noticiário sensacionalista sobre tráfico de órgãos contribuem para aumentar dúvidas e tornar permanentes os mitos e preconceitos.A doação de órgãos e tecidos é vista pela sociedade, em geral, como um ato de solidariedade e amor dos familiares. No entanto, ela exige a tomada de decisão num momento de extrema dor e angústia, motivado pelo impacto da notícia da morte, o sentimento de perda e pela interrupção inesperada de uma trajetória de vida(1).Com a modificação dos critérios de morte, surgem o conceito de morte encefálica e a possibilidade de utilização de órgãos e tecidos do doador. Quando não há uma boa compreensão do processo da doação de órgãos, os familiares dos possíveis doadores se sentem apreensivos, em dúvida e indecisos no momento da ocorrência, por ser um assunto sobre o qual não se tem muito esclarecimento(1).O Brasil dispõe do maior programa público de transplantes do mundo, pois financia 92% dos procedimentos feitos no país. Todavia, quando observamos o índice de transplantes post mortem proporcional à população, o Brasil apresenta um resultado pouco expressivo(2).A recusa familiar representa um grande entrave à realização dos transplantes, sendo também apontada como um dos grandes fatores responsáveis pela escassez de órgãos e tecidos para transplantes. As famílias que compreendem bem o diagnóstico de morte encefálica são mais favoráveis à doação de órgãos, em comparação com as famílias que acreditam que a morte só ocorre após a parada cardíaca. Sendo assim, o nível deficiente de informação, quer pela qualidade da informação sobre morte encefálica, quer por não ter ultrapassado a barreira do medo estigmatizado do mercantilismo de órgãos propagado pelos meios de comunicação, reduz drasticamente o número de pacientes beneficiados pela recepção de um órgão(3).Apesar de todas as pessoas serem responsáveis pela divulgação das informações, precisamos educar também os profissionais de saúde, uma vez que eles interferem diretamente na tomada de decisão da família do provável doador. Talvez tenha faltado aos profissionais de saúde o estudo de Tanatologia. Tais profissionais lidam diretamente com óbitos e não estuda a morte, o luto. A situação da família no momento do luto, aliada à difícil decisão de doar os órgãos do seu ente querido, devem formar uma forte relação de sinergismo, pois entra em questão o choque da morte e a decisão de salvar a vida de outrem. Também foi desvelado que a religião é considerada um dos motivos de recusar à doação dos órgãos e tecidos para transplante, portanto, é necessário oferecer uma maior atenção às crenças e valores religiosos das pessoas no momento da perda de seus familiares.A literatura é pródiga em referências demonstrando que os meios massivos de comunicação, apesar de sua grande penetração em âmbito nacional e mundial, não são os mais adequados para promover esclarecimento suficiente sobre temas polêmicos como é, entre outros, o da doação de órgãos. Ao contrário, muitas vezes, a forma, a simbologia e o repertório utilizados pelos meios de comunicação de massa causam mais celeuma e confusão do que esclarecimentos(4)Um estudo realizado na Espanha constatou que muitas informações provenientes da mídia poderiam ser uma alternativa para o esclarecimento de dúvidas, entretanto, por vezes, reproduzem informações distorcidas, superficiais e preconceituosas, sendo incapazes de modificar comportamentos negativos relacionados à doação de órgãos(5).Uma pesquisa realizada com pessoas que frequentavam postos de saúde na Espanha apontou que apenas 7% dos entrevistados receberam informações de profissionais da atenção primária à saúde sobre transplante. Embora as informações negativas tenham sido bastante absorvidas, o estudo indica que, mesmo em pequena proporção, a informação positiva gerou uma nova forma de interpretar a doação de órgãos(6).Ressaltamos aqui a importância da discussão do assunto “doação de órgãos” com amigos e familiares, pois as pessoas, quando bem instruídas, são capazes de promover discussões, o que pode ser considerado promoção de doação.O perfil do indivíduo contrário à doação de órgãos é: homem ou mulher com idade acima de 45 anos, com baixo nível educacional, que não conhece o conceito de morte encefálica, tem parceiro contra a doação de órgãos, não é favorável à doação de sangue e tem medo da manipulação do corpo após a morte. As principais razões para não aceitar a doação são o desconhecimento de como se tornar doador e o medo de diagnóstico equivocado de morte(7).Frente a essa realidade, o profissional de saúde deve atuar como educador, para modificar a opinião pública quanto aos conceitos errôneos. Porém, as crenças desfavoráveis só poderão ser modificadas se os educadores estiverem bem preparados, para que, assim, haja uma estimulação da população a participar de debates sobre transplantes de órgãos e legislação.Modificar a realidade existente implica desenvolver programas planejados e avaliados dentro de um processo educativo contínuo, respaldado por referenciais teóricos e modelos cientificamente reconhecidos, destinados a todos os segmentos da comunidade, além de incorporar na formação dos profissionais de saúde o conhecimento de tanatologia, bem como valorizar mais os princípios religiosos, para que não se tornem uma agressão na abordagem às famílias dos possíveis doadores. Deve ser levado em consideração o preparo das famílias, para que não haja a falsa ideia de que a morte está sendo esperada para salvar outras vidas, pois toda família deseja que o seu doente tenha a oportunidade de viver.Portanto, faz-se necessária uma exortação ao poder público, para que considere a falta de insumos à prática da doação de órgãos como um problema real e que inclua as atividades educativas acerca de transplantes nos programas prioritários de governo e nas políticas de atenção à saúde.Uma vez que a doação de órgãos no Brasil depende exclusivamente da permissão familiar, campanhas que busquem um aumento do esclarecimento da população sobre o conceito de morte encefálica e, especialmente que incentivem as pessoas a manifestar o desejo de ser doador e discutir sua decisão com a família são estratégias importantes para amenizar esse problema.Com uma atuação pautada pela ética e competência, as relações e políticas públicas contribuem para que os interesses da sociedade e das organizações sejam atendidos e estabelecidos por meio do diálogo. Na questão dos transplantes, essa contribuição se destaca, pois, por meio da informação e do estabelecimento do relacionamento com os segmentos de público, a atividade se propõe a diminuir o sofrimento de diversas pessoas que aguardam nas filas de espera, bem como amenizar o sofrimento de familiares e amigos do paciente doador.Também é de extrema valia a inclusão de conteúdos referentes à temática dos transplantes/doação de órgãos nos cursos de graduação da área de saúde, para que os profissionais possam atuar seguindo as necessidades de sua clientela, com segurança e eficiência, melhorando a qualidade de vida da população.

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Publicado

2012-11-28

Como Citar

Morais, T. R., & Morais, M. R. (2012). A importância da educação na promoção da doação de órgãos - doi: 10.5020/18061230.2012.p251. Revista Brasileira Em Promoção Da Saúde, 25(3), 251–254. https://doi.org/10.5020/18061230.2012.p251

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Editorial