Depressão Pós-parto para além do Diagnóstico: Representações Sociais e Subjetividade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v18i1.6068

Palavras-chave:

depressão pós-parto, maternidade, subjetividade, representações sociais.

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar reflexões teóricas acerca dos processos subjetivos de uma mulher diagnosticada com depressão pós-parto. Ele se insere em uma busca por romper com a visão reducionista da depressão pós-parto, calcada no modelo biomédico, que a reduz a seus aspectos biológicos-sintomatológicos, resgatando as dimensões sociais, histórico-políticas e singulares, frequentemente preteridas, presentes em sua construção. Para isto, utilizou-se da teoria da subjetividade de González Rey, em uma perspectiva histórico-cultural, em um diálogo com a teoria das representações sociais e autores críticos ao modelo biomédico, como Foucault e Illich. O controle por normas exercido na biopolítica, assim como o controle pelo diagnóstico resultante da medicalização da vida, configuram-se enquanto elementos importantes para refletir acerca da produção subjetiva da depressão pós-parto. Foi feito um estudo de caso, a partir de uma perspectiva qualitativa de base construtivo-interpretativa. No processo de construção de informação, discutimos que a depressão pós-parto expressa a disparidade entre a maternidade idealizada socialmente e aquela subjetivamente produzida de forma singular. Assim, a depressão pós-parto é uma produção subjetiva complexa que, para além de apenas aspectos biológicos e hormonais, é configurada pela subjetividade individual da puérpera em questão, e pela subjetividade social marcada pelo discurso médico e a medicalização da vida, que padronizam as experiências socialmente aceitáveis de maternidade e patologizam as demais, gerando frequentes quadros de frustração e culpa. Ademais, argumentamos que os modelos de assistência atualmente prestados, que partem de protocolos rígidos e que têm a norma como referência, não oportunizam uma reflexão crítica que viabilize o desenvolvimento de recursos subjetivos frente a essa experiência.  Desse modo, defende-se a necessidade de espaços que acolham as experiências das puérperas de maneira a oportunizar a reflexão crítica acerca dos aspectos envolvidos na construção subjetiva singular da depressão pós-parto; viabilizando, assim, o desenvolvimento de recursos subjetivos.

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Biografia do Autor

Rafaella Pinheiro Cesario, Centro Universitário de Brasília - UniCEUB

Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Membro do grupo de pesquisa “A subjetividade na saúde e na educação”, coordenado pelo Dr. González Rey em 2015. Pesquisadora-bolsista da Iniciação Científica 2015-2016 com foco nos processos subjetivos envolvidos na depressão pós-parto.

Daniel Magalhães Goulart, Centro Universitário de Brasília - UniCEUB

Professor Adjunto do curso de Psicologia do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Mestre em Educação pela Universidade de Brasília. Membro do grupo de pesquisa “A subjetividade na saúde e na educação”, coordenado pelo Dr. González Rey, na Universidade de Brasília.

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Publicado

30.04.2018

Como Citar

Cesario, R. P., & Goulart, D. M. (2018). Depressão Pós-parto para além do Diagnóstico: Representações Sociais e Subjetividade. Revista Subjetividades, 18(1), 79–91. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v18i1.6068

Edição

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