A Norma do Falo e a Abjeção da Mulher na Psicanálise

Autores

  • Paula Gruman Martins Université de Paris

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i1.e10945

Palavras-chave:

feminilidade, psicanálise, abjeção, norma, falo.

Resumo

Neste artigo, a autora analisa o lugar que “a mulher”, formação discursiva e essencializada, ocupa em alguns extratos das obras de Freud e Lacan. A partir do modelo do sexo único, tal como concebido por Thomas Laqueur, ensaia-se demonstrar que, em muitos momentos, a psicanálise operou em um paradigma de um só sexo, apesar da aparente centralidade do conceito de diferença sexual em suas teorias. Fundamentando-se em textos centrais de Freud e Lacan, notadamente aqueles que versam sobre uma suposta diferença sexual, a autora conclui existir uma norma do falo em suas teorias. Propõe-se que a importância conferida ao elemento fálico impede a psicanálise de pensar outras formas de subjetivação, em que o falo (anatômico ou simbólico) não seja tão central. Considerando tal norma do falo, as contribuições de Julia Kristeva e Judith Butler sobre a abjeção são utilizadas para pensar a fabricação do gênero feminino enquanto abjeto na teoria psicanalítica. Entende-se que uma leitura acrítica de Freud e Lacan produz e reforça uma divisão entre sujeitos e abjetos sob a norma fálica. Sustenta-se que uma subjetivação pensada pela falta do falo mantém “a mulher” em um lugar de inexistência e, mesmo, de abjeção.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Paula Gruman Martins, Université de Paris

Psicóloga, doutoranda em Psicanálise e Psicopatologia pela Université de Paris. Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Pesquisa em Psicanálise pela Université de Paris. Psicóloga clinica de adolescentes e adultos. Trabalha também como professora e tradutora de língua francesa.

Referências

Ayouch, T. (2018). Psychanalyse et hybridité: Genre, colonialité, subjectivations. Leuven: Leuven University Press.

Beauvoir, S. (1986). Le deuxième sexe. Paris: Gallimard. (Originalmente publicado em 1949)

Bonaparte, M. (1961). La sexualidad de la mujer. Buenos Aires: Hormé.

Birman, J. (2001). Gramáticas do erotismo: A feminilidade e suas formas de subjetivação em psicanálise. Rio de Janeiro: Civilização brasileira.

Butler, J. (1990a). Fundamentos contingentes: O feminismo e a questão do “pós-modernismo”. Cadernos Pagu, 11, 11-42.

Butler, J. (1990b). Gender Trouble. New York: Routledge.

Butler, J. (1993). Bodies that matter. New York: Routledge.

Bruno, P., & Guillen, F. (2012). Phallus et fonction phallique chez Lacan. In P. Bruno & F. Guillen, Phallus et function phallique (pp. 37-53). Toulouse: Éditions Érès.

Foucault, M. (1969). L’archéologie du savoir. Paris: Gallimard.

Foucault, M. (1988). A história da sexualidade. Sao Paulo: Graal. (Originalmente publicado em 1976)

Freud, S. (1976a). The three essays on the theory of sexuality. In J. Strachey (Ed), The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud (Vol. 7, pp. 123-246). London: Hogarth Press. (Originalmente publicado em 1905)

Freud, S. (1976b). The Infantile Genital Organization (An Interpolation into the Theory of Sexuality). In J. Strachey (Ed), The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 139-146). London: Hogarth Press. (Originalmente publicado em 1923)

Freud, S. (1976c). A questão da análise leiga. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 20, pp. 203-293). Rio de Janeiro: Imago Editora. (Originalmente publicado em 1926)

Freud, S. (1976d). Feminilidade. In J. Strachey (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 22, pp. 139-16). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1933)

Freud, S. (1976e). Analysis Terminable and Interminable. In J. Strachey (Ed.), The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud (Vol. 23, pp. 209-254). London: Hogarth Press. (Originalmente publicado em 1937)

Freud, S. (2010). Sobre a sexualidade feminina. In S. Freud, Obras completas (Vol. 18, pp. 202-222). São Paulo: Companhia das Letras. (Originalmente publicado em 1931)

Freud, S. (2011a). A dissolução do complexo de édipo. In S. Freud, Obras completas (Vol. 16, pp. 182-192). São Paulo: Companhia das Letras. (Originalmente publicado em 1924)

Freud, S. (2011b). O problema econômico do masoquismo. In S. Freud, Obras completas (Vol. 16, pp.165-181). São Paulo: Companhia das Letras. (Originalmente publicado em 1924)

Freud, S. (2011c). Algumas consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos. In S. Freud, Obras completas (Vol. 16, pp.256-271). São Paulo: Companhia das Letras. (Originalmente publicado em 1925)

Freud, S. (2012). Totem e Tabu. In S. Freud, Obras completas (Vol. 11, pp.13-244). São Paulo: Companhia das Letras. (Originalmente publicado em 1913)

Freud, S. (2015). O mal-estar na cultura. Porto Alegre: L&PM. (Originalmente publicado em 1930)

Freud, S. (2016). Estudos sobre a histeria. In S. Freud, Obras completas (Vol. 2). São Paulo: Companhia das letras, (Originalmente publicado em 1893-1895)

Gallop, J. (2001). Além do falo. Cadernos Pagú, (16), 267-287. (Originalmente publicado em 1988)

Horney, K. (1991). Psicologia feminina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. (Originalmente publicado em 1926)

Jones, E. (1927). The early development of female sexuality. The International Journal of Psychoanalysis, 8(4), 459-472.

Kristeva, J. (1980). Pouvoirs de l’horreur: Essai sur l’abjection. Paris: Editions du Seuil.

Lacan, J. (1966). La signification du phallus. Ecrits. Paris: Editions du Seuil. (Originalmente publicado em 1958)

Lacan, J. (1975). Le séminaire, livre 20: Encore (1972-1973). Paris: Editions du Seuil.

Lacan, J. (2002). El seminário, libro 22: RSI (1974-1975). Buenos Aires: Escola Freudiana de Buenos Aires.

Laqueur, T. (1990). Making sex: Body and gender from the greeks to Freud. Cambridge: Harvard University Press.

Melman, C. (1986). A mulher não existe, leitura das fórmulas da sexuação. Che vuoi? 44-49.

O’Connell, H., Eizenberg, N., Rahman, M., & Cleeve, J. (2008). The anatomy of the distal vagina: towards unity. The journal of sexual medicine, 5(8), 1883-1891. DOI: 10.1111/j.1743-6109.2008.00875.x

O’Connell, H., Sanjeevan, K., & Hutson, J. (2005). Anatomy of the clitoris. Journal of urology, 174(4), 1189-1195. DOI: 10.1097/01.ju.0000173639.38898.cd

Porchat, P. (2007). Gênero, psicanálise e Judith Butler – do transexualismo à política. Tese de doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo.

Rubin, G. (1975). The Traffic in Women. Notes on the “Political Economy”of Sex. In R. Reiter (Org.), Toward an Anthropology of Women (pp. 157-210). New York: Monthly Review Press.

Viviani, A. (2015). Considerações sobre o aforismo “A mulher não existe”. In I. Kisil, I A. Santana & C. Katz, Leituras e leitores de Lacan em três aforismos (pp. 53-65). São Paulo: Intermeios.

Downloads

Publicado

16.03.2021

Como Citar

Martins, P. G. (2021). A Norma do Falo e a Abjeção da Mulher na Psicanálise. Revista Subjetividades, 21(1), Publicado online: 01/05/2021. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i1.e10945

Edição

Seção

Estudos Teóricos