Sentidos Produzidos por Profissionais de Saúde na Atenção a Comunidades Quilombolas do Vale do Guaporé

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp1.e8745

Palavras-chave:

profissional de saúde, comunidade quilombola, saúde pública.

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar os sentidos produzidos por profissionais de saúde em relação à atenção à saúde em três comunidades quilombolas do Vale do Guaporé, no estado de Rondônia. O recurso metodológico utilizado foi a abordagem qualitativa. A construção do corpus foi realizada a partir de entrevistas semiestruturadas com seis profissionais de saúde e a técnica de análise foi a análise do discurso influenciada pela perspectiva do construcionismo social. Os sentidos produzidos pelos profissionais, apontados por meio de suas falas, permitiram a identificação de quatro repertórios interpretativos: 1) construção social do remanescente quilombola a partir da diferença: cordialidade, atraso e desinteresse; 2) problemas de saúde mental na comunidade; 3) aspectos sociais, culturais e simbólicos da comunidade como práticas de cuidado em saúde mental; e 4) entraves na atenção: distanciamentos teórico-práticos e (i)mobilidades. As reflexões relativas aos discursos ora apresentados apontam para a necessidade de capacitação e de formação continuada dos profissionais em saúde da população negra para que haja uma reflexão crítica da realidade e dos condicionantes sociais inerentes à saúde dessa população.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Eraldo Carlos Batista, Universidade Estadual de Mato Grosso

Doutor em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica - PUCRS, Mestre em Psicologia pela Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR, Especialista em Saúde Mental pela Universidade Católica Dom Bosco, Bacharel em Psicologia. Professor do Departamento de Psicologia da Faculdade Católica de Rondônia - FCR.

kátia Bones Rocha, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Docente de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutora em Psicologia pela Universitat Autònoma de Barcelona (UAB), Espanha.

Referências

Barroso, S. M., Melo, A. P. S., & Guimarães, M. D. C. (2014). Depressão em comunidades quilombolas no Brasil: triagem e fatores associados. Revista Panamericana de Salud Pública, 35, 256-263. https://www.scielosp.org/pdf/rpsp/2014.v35n4/256-263/pt

Bento, M. A. S. (2014). Branqueamento e branquitude no Brasil. In I. Carone, & M. A. S. Bento (Orgs.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes.

Brasil (1988). Constituição. República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal.

Brasil (1990a). Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 set.

Brasil (1990b). Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Recuperado de http://www.soleis.adv.br/suscomunidaderecur sos.htm Brasil (2003). Decreto n. 4.887, de 20 de novembro de 2003. Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Brasil (2004). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial. Brasília, DF: Ministério da Saúde.

Brasil (2016). Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Articulação Interfederativa. Temático Saúde da População Negra. Brasília, DF: Ministério da Saúde.

Brasil (2017). Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: uma política para o SUS. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social. Brasília, DF: Ministério da Saúde.

Cadoná, E., & Scarparo, H. (2015). Construcionismo social na atenção básica: uma revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva, 20, 2721-2730. https://doi.org/10.1590/1413-81232015209.13552014

Cardoso, C. S., de Melo, L. O., & Freitas, D. A. Condições de saúde nas comunidades quilombolas. Journal of Nursing UFPE on line, 12(4), 1037-1045. https://www.scielosp.org/pdf/sausoc/2007.v16n2/111-124/pt

Cardoso, L. G. V., Melo, A. P. S., & Cesar, C. C. (2015). Prevalência do consumo moderado e excessivo de álcool e fatores associados entre residentes de Comunidades Quilombolas de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 20, 809-820. https://doi.org/10.1590/1413-81232015203.12702014

Carvalho, G. (2013). A saúde pública no Brasil. Estudos avançados, 27(78), 7-26. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000200002

Chehuen Neto, J. A., Fonseca, G. M., Brum, I. V., Santos, J. L. C. T. D., Rodrigues, T. C. G. F., Paulino, K. R., & Ferreira, R. E. (2015). Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: implementação, conhecimento e aspectos socioeconômicos sob a perspectiva desse segmento populacional. Ciência & Saúde Coletiva, 20, 1909-1916. https://doi.org/10.1590/1413-81232015206.17212014

Coelho, I. B. (2010). Democracia sem equidade: um balanço da reforma sanitária e dos dezenove anos de implantação do Sistema Único de Saúde no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 15, 171-183. https://www.scielosp.org/pdf/csc/2010.v15n1/171-183/pt

Farias Junior, E. D. A. (2011). Negros do Guaporé o sistema escravista e as territorialidades específicas. RURIS-Revista do Centro de Estudos Rurais-UNICAMP, 5(2), 85-116. https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/ruris/article/view/1467/984

Freitas, D. A., Caballero, A. D., Marques, A. S., Hernández, C. I. V., & Antunes, S. L. N. O. (2011). Saúde e comunidades quilombolas: uma revisão da literatura. Revista CEFAC, 13(5). https://www.redalyc.org/html/1693/169321136011/

Freitas, D. A., Silveira, J. C. S., Ferreira, L. A., Zucchi, P., & Marques, A. S. (2011). Mulheres quilombolas: profissionais na estratégia de saúde da família. Espaço para a Saúde-Revista de Saúde Pública do Paraná, 12(2), 56-62. DOI: http://dx.doi.org/10.22421/1517-7130.2011v12n2p56

Gergen, K. J. (1997). Relation and relationships: soundings in social construction. Cambridge/London: Harvard University Press.

Gomes, K. D. O., Reis, E. A., Guimarães, M. D. C., & Cherchiglia, M. L. (2013). Utilização de serviços de saúde por população quilombola do Sudoeste da Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 29, 1829-1842. https://www.scielosp.org/pdf/csp/2013.v29n9/1829-1842/pt

Iñiguez, L. (2004). Manual de análise do discurso em ciências sociais. Petrópolis: Vozes.

Lages, S. R. C., de Oliveira Tavares, N., dos Santos, S. V., Carvalho, M. A. S., & Maciel, L. F. R. (2017). Pesquisas em Psicologia Social no Campo da Saúde da População Negra no Brasil. Revista de Psicologia da UNESP, 13(1), 1-10. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/revpsico/v13n1/a01.pdf

Marques, A. S., Freitas, D. A., Leão, C. D. A., Oliveira, S. K. M., Pereira, M. M., & Caldeira, A. P. (2014). Atenção Primária e saúde materno-infantil: a percepção de cuidadores em uma comunidade rural quilombola. Ciência & Saúde Coletiva, 19, 365-371. https://doi.org/10.1590/1413-81232014192.02992013

Melo, M. F. T., & Silva, H. P. (2015). Doenças crônicas e os determinantes sociais da saúde em comunidades quilombolas do Pará, Amazônia, Brasil. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), 7(16), 168-189. http://abpnrevista.org.br/revista/index.php/revistaabpn1/article/view/103

Oliveira, A. S. J., Rodrigues, F. E. N., Corrêia, L. S. S., Tavares, M. E., & Monteiro, T. L. (2011). Quilombolas do Pará: condições de vulnerabilidade nas comunidades remanescentes de Quilombo. Assis: Triunfal Gráfica e Editora.

Oliveira, R. A., Gellacic, A. S., Zerbinatti, A. S., de Souza, F. E., & Aragão, J. A. (2012). Equidade só no papel? Formas de preconceito no Sistema Único de Saúde e o princípio de equidade. Revista Psicología para América Latina, 23, 47-64. http://ulapsi.org/portal/wp-content/uploads/2013/01/23-3.-Equidade-so-no-papel.pdf

Oliveira, S. K. M., Pereira, M. M., Guimarães, A. L. S., & Caldeira, A. P. (2015). Autopercepção de saúde em quilombolas do norte de Minas Gerais, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 20(9), 2879-2890. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015209.20342014

Patton, M. Q. (2014). Qualitative evaluation and research methods. Newbury Park: Sage Publications.

Potter, J., & Wetherell, M. (1987). Discourse and social psychology. London: Sage Publications.

Rasera, E. F., & Japur, M. (2007). Grupo como construção social. São Paulo: Vetor.

Santos, A. O. (2018). Saúde mental da população negra: uma perspectiva não institucional. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), 10(24), 241-259. http://www.abpnrevista.org.br/revista/index.php/revistaabpn1/article/view/583

Santos, R. C. D., & Silva, M. S. (2014). Condições de vida e itinerários terapêuticos de quilombolas de Goiás. Saúde e Sociedade, 23, 1049-1063. https://doi.org/10.1590/S0104-12902014000300025

Santos, V. C., Nagib Boery, E., Pereira, R., de Oliveira Santa Rosa, D., Alves Vilela, A. B., Ferraz dos Anjos, K., & Silva de Oliveira Boery, R. N. (2016). Condições socioeconômicas e de saúde associadas à qualidade de vida de idosos quilombolas. Texto & Contexto Enfermagem, 25(2), 1-9. https://www.scielosp.org/article/csp/2013.v29n9/1829-1842/pt/

Sawaia, B. (2014). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes.

Silva Filho, J. B. S. & Lisboa, A. (2012). Quilombolas: resistência, história e cultura. São Paulo: IBEP.

Silva, R. A., & Menezes, J. A. (2016). Reflexões sobre o uso de álcool entre jovens quilombolas. Psicologia & Sociedade, 28(1), 84-93. http://dx.doi.org/10.1590/1807-03102015v28n1p084

Silva, T. T. (2014). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes.

Silva, V. H F., Dimenstein, M., & Leite, J. F. (2013). O cuidado em saúde mental em zonas rurais. Mental, 10(19), 267-285. http://pepsic.bvsalud.org/pdf/mental/v10n19/a08v10n19.pdf

Souza, L. O. C. (2012). Quilombos: identidade e história. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

Spink, M. J. P., & Medrado, B. (2004). Produção de sentidos no cotidiano: uma abordagem teórico-metodológica para análise das práticas discursivas. In M. J. P Spink. (Org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. 3. ed. São Paulo: Cortez, 41-61.

Teixeira, M. A. D., & Xavier, D. F. B. (2018). Santo Antônio do Guaporé: direitos humanos, conflitos e resistência socioambiental Revista Direito e Práxis, 9(1), 351-371. DOI: 10.1590/2179-8966/2018/32718

Vieira, A. B. D., & Monteiro, P. S. (2013). Comunidade quilombola: análise do problema persistente do acesso à saúde, sob o enfoque da Bioética de Intervenção. Saúde em Debate, 37, 610-618. https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2013.v37n99/610-618/pt

Downloads

Publicado

20.05.2020

Como Citar

Batista, E. C., & Rocha, kátia B. (2020). Sentidos Produzidos por Profissionais de Saúde na Atenção a Comunidades Quilombolas do Vale do Guaporé. Revista Subjetividades, 20(Esp1), Publicado online em: 20/05/2020. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp1.e8745

Edição

Seção

Relações Intergrupais: Preconceito e Exclusão Social