Participação Sociocultural, Ócio, Acessibilidade e Envelhecimento Ativo no contexto de Idosos Institucionalizados

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v19i2.e9237

Palavras-chave:

envelhecimento ativo, institucionalização, participação sociocultural, ócio, acessibilidade cultural.

Resumo

Nas últimas décadas, a visão da velhice e do envelhecimento tem-se transformado, originando preocupações com a criação de ambientes favoráveis à população de pessoas idosas, designadamente as institucionalizadas a título permanente. Vive-se, hoje, sob o paradigma do envelhecimento ativo, processo que valoriza a combinação de indivíduo e seu ambiente, bem como a relação que entre eles se cria. Essa relação consubstancia-se em trajetórias positivas de envelhecimento e demarca-se na participação social e cultural enquanto experiência vital de ócio e de desenvolvimento humano, em que a(s) acessibilidade(s) se salienta(m) enquanto fator essencial. Tendo por base esses pressupostos, procurámos compreender de que modo a participação e o usufruto de atividades socioculturais e artísticas, em espaços externos às instituições residenciais de idosos, podem constituir contextos privilegiados de envelhecimento ativo e de construção de experiências de ócio e de desenvolvimento para os indivíduos residentes. O presente artigo está estruturado em duas partes fundamentais: Na primeira parte, apresenta-se o enquadramento teórico, discutindo o processo de envelhecimento ativo no âmbito específico da participação sociocultural; será, ainda, realizada uma discussão em torno do conceito de ócio, analisando-o desde a perspetiva humanista e enquanto elemento central numa velhice saudável e ativa; por fim, será discutida a importância da(s) acessibilidade(s) enquanto elemento determinante da participação sociocultural das pessoas idosas institucionalizadas. Na segunda parte, serão discutidos os resultados obtidos numa investigação qualitativa conduzida junto de 25 pessoas idosas, institucionalizadas a título permanente em cinco estruturas residenciais da região de Leiria, em Portugal. Assim, através da utilização de entrevistas semiestruturadas, percebemos que, quer a participação ativa em atividades de natureza sociocultural e artística, quer o usufruto deste género de atividade são percecionadas pelas pessoas idosas institucionalizadas enquanto elemento essencial no processo de envelhecimento ativo, na vivência de experiências de ócio e no sentimento de bem-estar. Contudo, essa participação sociocultural e artística só é sentida como verdadeiramente benéfica se tiver em linha de conta as questões da acessibilidade, aspeto referenciado como essencial no processo de (re)construção identitária.

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Biografia do Autor

Jenny Sousa, Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria- CICS.Nova.IPLeiria

Jenny Sousa é doutorada em Estudos Culturais pela Universidade de Aveiro, com uma tese sobre a velhice na cultura contemporânea. Mestre em Arte e Educação pela Universidade Aberta e licenciada em Animação Socioeducativa, com especialização em Desenvolvimento Local, pelo Instituto Politécnico de Coimbra. Desde 2007 que é docente na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria, no departamento de Comunicação, Educação e Psicologia. É investigadora integrada no CICS.NOVA. IPLeiria – Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais e membro colaborador do CI&DEI.  

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Publicado

22.08.2019

Como Citar

Sousa, J. (2019). Participação Sociocultural, Ócio, Acessibilidade e Envelhecimento Ativo no contexto de Idosos Institucionalizados. Revista Subjetividades, 19(2), Publicado em: 22/08/2019. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v19i2.e9237

Edição

Seção

Dossiê: Ócio e Contemporaneidade