Discursos de Familiares acerca da Sexualidade de Sujeitos Autistas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i2.e11018

Palavras-chave:

autismo, sexualidade, teoria dos discursos

Resumo

Os diagnósticos de transtorno do espectro autista aumentaram consideravelmente nos últimos anos e, não raro, sujeitos autistas são considerados por seus familiares como sexualmente infantilizados ou descontrolados – fato este questionado pela psicanálise. O objetivo deste estudo foi investigar discursos de familiares sobre a sexualidade de sujeitos autistas. Participaram desta pesquisa dezesseis entrevistados (dois sujeitos autistas, oito mães, três pais, dois irmãos e um avô de sujeitos autistas) todos inseridos em formatos familiares nucleares cujos relatos foram organizados a partir de uma análise de conteúdo temática e analisados a partir da teoria dos quatro discursos de Lacan. Os principais temas e discursos produzidos pelos participantes foram organizados em eixos temáticos que destacaram: as dúvidas e questionamentos justificados pelos descompassos entre o desenvolvimento psicológico, físico e sexual dos sujeitos autistas; a suposição da imaturidade biológica e das inadequações atitudinais dos sujeitos autistas nas questões sexuais; o reforço dos papéis tradicionais de gênero, delegando às mães os cuidados íntimos dos filhos autistas e delegando aos pais o estímulo pela virilidade dos sujeitos autistas do sexo masculino; mas também – principalmente por parte dos irmãos – a possibilidade de os sujeitos autistas vivenciarem suas sexualidades de maneira autônoma, mesmo que referenciados nos esquemas neurotípicos e heterossexuais. Neste sentido, as tensões entre os discursos do mestre e discurso universitário (que pretendem o controle) e o discurso da psicanálise (que aposta na autonomia/singularidade dos sujeitos autistas no campo da sexualidade) se mostraram os mais evidentes nas entrevistas. Por fim, a teoria lacaniana dos quatro discursos se mostrou propicia para compreender a constituição dos laços sociais que organizam as vivências sexuais dos sujeitos autistas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Graziela Mezin da Silva, Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Membro do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Sexualidades e Gêneros (Hubris/UFTM).

Rafael De Tilio, Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Doutor em Psicologia. Docente do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFTM. Coordenador do Membro do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Sexualidades e Gêneros (Hubris/UFTM).

Referências

American Psychiatric Association [APA]. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-V. Porto Alegre: Artmed.

Barnett, J. P. (2017). Intersectional harassment and deviant embodiment among Autistic adults: (dis)ability, gender and sexuality. Culture, Health & Sexuality, 39(1), 1-15. DOI: 10.1080/13691058.2017.1309070

Bastos, O. M., & Deslandes, S. F. (2012). Sexualidade e deficiência intelectual: Narrativas de pais de adolescentes. Physis Revista de saúde coletiva, 22(3), 1031-1046. DOI: 10.1590/S0103-73312012000300010

Bernardino, L. M. F. (2016). Os “tempos de autismo” e a clínica psicanalítica. Estilos clínicos, 21(4), 412-427. Link

Bianco, A. C. L., & Nicacio, E. (2015). O adolescente e o encontro com os impasses do sexual. Caderno de Psicanálise, 37(33), 71-84. Link

Binevicius, L., & Lourenço, L. C. d’A. (2020). Autismo e a hipótese de uma estrutura não decidida. Subjetividades, 20(3), e10196. DOI: 10.5020/23590777.rs.v20i3.e10196

Borges, F., & Chagas, I. (2019). A men’splace: o passado como referência para o futuro das masculinidades em The Handmaid’s tale. Galaxia, 1, 87-99. DOI: 10.1590/1982-25542019441699

Bracks, M., & Calazans, R. (2018). A questão diagnóstica e sua implicação na epidemia autística. Tempo Psicanalítico, 50(1), 51-76. Link

Brandão, K. (2019). O que a teorização lacaniana dos discursos nos ensina sobre o laço contemporâneo? Modernos e Contemporâneos, 3(5), 24-43.

Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2), 77-101. DOI: 10.1191/1478088706qp063oa

Castro, J. E. (2009). Considerações sobre a escrita lacaniana dos discursos. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 12(2), 245-258. DOI: 10.1590/S1516-14982009000200006

De Tilio, R. (2017). Transtorno do Espectro Autista e sexualidade: Um relato de caso na perspectiva do cuidador. Psicología, Conocimiento y Sociedad, 7(1), 36-58. Link

Donvan, J., & Zucker, C. (2016). Outra sintonia: A história do autismo. São Paulo: Companhia das Letras.

Dunker, C. I. L. (2017). Teoria da Transformação em Psicanálise: Da clínica a política. Psicologia Política, 17(40), 569-588. Link

Dunker, C. I. L., Paulon, C. P., & Mílan-Ramos, J. G. (2017). Análise psicanalítica de discursos: perspectivas lacanianas. São Paulo: Estação das Letras e Cores.

Ferreira, T., & Vorcaro, A. (2017). Tratamento psicanalítico de crianças autistas: Diálogo com múltiplas experiências. Belo Horizonte: Autêntica.

Freud, S. (2002). Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos. In S. Freud,Edição standard brasileira das obras psicológicas completas(Vol. XIX, pp. 144-154). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1925)

Freud, S. (2016). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e outros textos. In: S. Freud,Edição standard brasileira das obras psicológicas completas(Vol. VII, pp. 76-150). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1905)

Gaspard, J-L. (2012). Nouveaux symptoms et lien social contemporain. In J-B. Gaspard& L. Ottavi, Les fondamentaux de la psychanalyselacanienne: Rérèresépistémologiques, conceptuels et cliniques (pp. 46-65). Rennes: PUR.

Jorge, M. A. C. (1997). Sexo e discurso em Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Zahar

Lacan, J. (1985). Os complexos familiares na formação do indivíduo. Rio de Janeiro: Zahar.

Lacan, J. (1992). O seminário, Livro 17: O avesso da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar.

Lacan, J. (2003). Radiofonia. In: J. Lacan.Outros escritos (pp. 400-447). Rio de Janeiro: Zahar.

Laurent, E. (2014). A Batalha do autismo: Da clínica à política. Rio de Janeiro: Zahar.

Leite, V. (2019). “Em defesa das crianças e da família”: Refletindo sobre discursos acionados por atores religiosos “conservadores” em controvérsias públicas envolvendo gênero e sexualidade. Sexualidad, Salud y Sociedad – Revista Latioamericana, (32), 119-142. DOI: 10.1590/1984-6487.sess.2019.32.07.a

Lima, M. C. P., Fontenele, T. C. B., & Gaspard, J. L. (2018). O sujeito autista como figura de segregação. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 70(3), 113-127. Link

Loureto, G. D. L., & Moreno, S. I. R. (2016). As relações fraternas no contexto do autismo: Um estudo descritivo. Revista de Psicopedagogia, 33(102), 307-318. Link

Maia, A. C. B. (2016). Vivência da sexualidade a partir do relato de pessoas com deficiência intelectual. Psicologia em estudo, 21(1), 77-88. DOI: 10.4025/psicolestud.v21i1.29480

Maleval, J.-C. (2017). O autista e a sua voz. São Paulo: Editora Blucher.

Mapelli, L. D., Barbieri, M. C., Castro, G. V. D. Z. B., Bonelli, M. A., Wernet, M., & Dupas, G. (2018). Criança com transtorno do espectro autista: Cuidado na perspectiva familiar. Escola Anna Nery, 22(4), e20180116. DOI: 10.1590/2177-9465-ean-2018-0116

Mariani, B., & Magalhães, B. (2013). Lacan. In L. A. Oliveira (org.), Estudos do discurso: perspectivas teóricas (p.101-121). São Paulo: Parábola Editorial.

Martini, A. M. R. (2019). A chegada do estrangeiro: Grupo de família – construindo pontes. Vínculo – Revista do NESME, 16(1), 78-88. Link

Miskolci, R., & Campana, M. (2017). “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Revista Sociedade e Estado, 32(3), 725-747. DOI: 10.1590/s0102-69922017.3203008

Misquiatti, A. R. N., Brito, M. C., Ferreira, F. T. S., & Assumpção Junior, F. B. A. (2015). Sobrecarga familiar e crianças com transtorno do espectro do autismo: Perspectiva dos cuidadores. Revista CEFAC, 17(1), 192-200. DOI: 10.1590/1982-0216201520413

Moraes, N. A., & Perrone, C. M. (2018). Perspectivas político-clínicas: Psicanálise, autismo e a razão neoliberal. Tempo Psicanalítico, 50(2), 11-30. Link

Mrech, L. M., & Rahme, M. M. F. (2011). Psicanálise, educação e contemporaneidade: Novas interfaces e dimensões do laço social. In Psicanálise, educação e diversidade (p. 13-26). Belo Horizonte: Fino traço.

Nascimento, T. R. C., & Bruns, M. A. T. (2019). A família e a sexualidade de filhos(as) autistas: o que a literatura científica atual oferece? Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, 30(1), 8-13. DOI: 10.35919/rbsh.v30i1.70

Navone, S. L. (2018). Norma, integracion y desafio: representaciones masculinas de varones com discapacidad física. Sexualidad, Salud y Sociedad, 29(8), 75-98. DOI: 10.1590/1984-6487.sess.2018.29.04.a

Neves, D. M. (2019). Sexualidade: Saber e individualidade. Revista Estudos Feministas, 27(2), e54146. DOI: 10.1590/1806-9584-2019v27n254146

Nobre, S. D., & Souza, A. M. (2018). Vivências de pais e/ou cuidadores de crianças com autismo em um serviço de plantão psicológico. Revista Baiana de Enfermagem, 32(1), e22706. DOI: 10.1590/s1413-65382519000300007

Nominé, B. (2012). O que nos ensinam os autistas. A peste, 4(2), 27-39.

Ottoni, A. C. V., & Maia, A. C. B. (2019). Considerações sobre a sexualidade e educação sexual de pessoas com Transtorno do Espectro Autista. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, 14(2), 1265-1283. DOI: 10.21723/riaee.v14iesp.2.12575

Restrepo, J. M. B. (2012). Ao autismo nos tempos do capitalismo ao sujeito autista da psicanálise. A Peste, 4(2), 57-64. Link

Rocha, T. H. R. R. (2021). Neoliberalismo e teoria dos discursos: Os usos do corpo na contemporaneidade. Subjetividades, 21(1), e9710. DOI: 10.5020/23590777.rs.v21i1.e9710

Roy, D. (2017). O que nos ensinam as crianças autistas. In Instituto do Campo Freudiano (Org.), Encontro com a Clínica do Autismo da Escola Brasileira de Psicanálise.

Santos, W. B. (2015). Adolescência heteronormativa masculina: Entre a construção obrigatória e a desconstrução necessária. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em educação, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP.

Savegnago, S. D. O., & Arpini, D. M. (2016). A abordagem do tema sexualidade no contexto familiar: o ponto de vista de mães de adolescentes. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(1), 130-144. DOI: 10.1590/1982-3703001252014

Seffner, F., Borrilo, D., & Ribeiro, F. B. (2018). Gênero e sexualidade: Entre a explosão do pluralismo e os embates da normalização. Civitas, 18(1), 5-9. DOI: 10.15448/1984-7289.30347

Segeren, L., & Françozo, M. F. C. (2014). As vivências de mães de jovens autistas. Psicologia em Estudo, 19(1), 39-46. DOI: 10.1590/1413-7372189590004

Sgarioni, M. M., & D’Agord, R. L. (2013). Ciência, verdade e saber na sociedade moderna: uma perspectiva lacaniana. Clínica & Cultura, 11(1), 3-15.

Silva, M. L. I., Vieira, M. L., & Schneider, D. R. (2016). Envolvimento paterno em famílias de criança com transtorno do espectro autista: Contribuições da teoria bioecológica do desenvolvimento humano. Bol. Acad. Paulista de Psicologia, 36(90), 66-85. Link

Silva, S. E. D., Santos, A. L., Sousa, Y. M., Cunha, N. M. F., Costa, J. L., & Araújo, J. S. (2018). A família, o cuidar e o desenvolvimento da criança autista. J. Health Bio Sci, 6(3), 334-341. DOI: 10.12662/2317-3076jhbs.v6i2.1782.p334-341.2018

Smeha, L. N. (2010). Vivências da paternidade em homens que são pais de um filho com diagnóstico de autismo. Tese de Doutorado em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.

Souza, J. G., & Chaves, W. C. (2017). Família: Pluralidade e singularidade. Reverso, 39(74), 47-54.

Vieira, A. C. (2016). Sexualidade e transtorno do espectro autista: Relatos de familiares. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual Paulista, Bauru, SP.

Vorcaro, A. (2011). O efeito bumerangue da classificação psicopatológica da infância. In A. Jerusalinski& S. Fendrik (Orgs.), O livro negro da psicopatologia contemporânea (pp. 219-229). São Paulo: Via Littera.

Downloads

Publicado

05.10.2021

Como Citar

Silva, G. M. da, & De Tilio, R. (2021). Discursos de Familiares acerca da Sexualidade de Sujeitos Autistas. Revista Subjetividades, 21(2), Publicado online: 05/10/2021. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i2.e11018

Edição

Seção

Relatos de Pesquisa