A Ferida Narcísica de Desempregados e a Construção de Imagens de Si nas Redes Sociais

Autores

  • Antônio Carlos de Barros Júnior Universidade de São Paulo/ex-aluno de doutorado e mestrado em Psicologia Social.
  • Marcelo Afonso Ribeiro Universidade de São Paulo/ Professor livre docente do Instituto de Psicologia

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20i2.e9272

Palavras-chave:

pós-modernidade, internet, mídias sociais, desemprego, narcisismo.

Resumo

Na dinâmica pós-moderna, segundo uma leitura lacaniana, o desejo de reconhecimento, por parte dos sujeitos, é elemento fundamental na relação com o outro. São estimulados a gozar narcisicamente e impelidos a vender-se constantemente para conquistar seu lugar nesta sociedade do espetáculo. As redes sociais virtuais são um dos palcos pós-modernos em que isso se dá. O presente estudo visava responder à questão de como tal dinâmica seria, no Facebook e no LinkedIn, para indivíduos em situação de desemprego. Dado que essa condição é socialmente desvalorizada, representando uma ferida narcísica para muitos sujeitos, o objetivo foi apreender que discursos manifestos e inconscientes eles produzem nessas redes sociais virtuais. A abordagem adotada foi qualitativa e o método utilizado foi a netnografia. A principal conclusão é a de que alguns sujeitos desempregados usam o Facebook e o LinkedIn de forma a tentar tamponar a ferida narcísica, na sua imagem para o outro, que o desemprego representa. Fazem isso pela construção de imagens de si, selecionando o que publicam e elidindo, no geral, seu sofrimento.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Antônio Carlos de Barros Júnior, Universidade de São Paulo/ex-aluno de doutorado e mestrado em Psicologia Social.

Psicanalista, doutor (2014) e mestre (2009) em Psicologia Social pela USP. Foi membro da Associação Campinense de Psicanálise entre 2004 e 2010, onde fez sua formação psicanalítica, conduziu alguns seminários e iniciou sua prática clínica. Atuando também na área da Educação, desde 2007, já ministrou disciplinas de graduação e de pós-graduação.

Áreas de atuação: Psicanálise, Psicologia Social, Psicologia Organizacional do Trabalho.
Áreas de pesquisa: internet, redes sociais virtuais; sujeitos, pós-modernidade; trabalho, organizações, desemprego.

Marcelo Afonso Ribeiro, Universidade de São Paulo/ Professor livre docente do Instituto de Psicologia

Possui graduação em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1992), Licenciatura em Psicologia pela Universidade de São Paulo (1993), Mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (1998), Doutorado em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (2004) e Livre Docência em Psicologia do Trabalho e das Organizações pela Universidade de São Paulo (2012). Atualmente é professor e pesquisador em Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, onde é Coordenador do Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho (CPAT). Professor visitante na Universidad Del Valle (Colômbia), Université de Savoie (França) e no CNAM (Conservatoire des Arts et Métiers - França). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social do Trabalho e das Organizações e Orientação Profissional e de Carreira, atuando principalmente nos seguintes temas: carreira, mundo do trabalho, desemprego, exclusão do trabalho, trabalho decente, carreira de populações vulneráveis no mundo do trabalho, trajetórias de vida de trabalho, identidade de trabalho, orientação profissional e de carreira, educação e informação profissional.

Referências

Appel, H., Gerlach, A. L., & Crusius, J. (2016). The interplay between Facebook use, social comparison, envy, and depression. Current Opinion in Psychology, 9, 44-49.

Aubert, N. (2006). Un individu paradoxal. Em N. Aubert (Ed.), L’individu hypermoderne - sociologie clinique (pp. 13-38). Paris, France: Érès.

Bauman, Z. (2008). Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Bazarova, N. N., Taft, J. G., Choi, Y. H., & Cosley, D. (2013). Managing impressions and relationships on Facebook: Self-presentational and relational concerns revealed through the analysis of language style. Journal of Language and Social Psychology, 32(2), 121-141.

Burke, M. & Kraut, R. (2013). Using Facebook after losing a job: Differential benefits of strong and weak ties. In Proceedings of the 2013 Conference on Computer Supported Cooperative Work (pp.1419-1430). New York, NY: ACM.

Castells, M. (2011). A sociedade em rede – a era da informação: economia, sociedade e cultura (6ª. ed., Vol. 1). São Paulo, SP: Paz e Terra.

Chua, T. H. H., & Chang, L. (2016). Follow me and like my beautiful selfies: Singapore teenage girls’ engagement in self-presentation and peer comparison on social media. Computers in Human Behavior, 55, 190-197.

CONEP (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa com Seres Humanos) (1996). Resolução 196/96: diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Recuperado de http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm.

Debord, G. (1992). La société du spectacle (3a ed.). Paris: Gallimard. (Originalmente publicado em 1967).

Feuls, M., Fieseler, C., & Suphan, A. (2014). A social net? Internet and social media use during unemployment. Work, employment and society, 28(4), 551-570.

Fontanella, B. J. B. et al., Luchesi, B. M., Saidel, M. G. B., Ricas, J., Turato, E. R. e Melo, D. G. (2011). Amostragem em pesquisas qualitativas: proposta de procedimentos para constatar saturação teórica. Cadernos de Saúde Pública, 27(2), 389-394.

Fox, J., & Vendemia, M. A. (2016). Selective self-presentation and social comparison through photographs on social networking sites. Cyberpsychology, behavior, and social networking, 19(10), 593-600.

Freud, S. (1981a). Introducción al narcisismo. En S. Freud, Obras Completas (4ª ed.). Madrid: Editorial Biblioteca Nueva. (Originalmente publicado em 1914).

Freud, S. (1981b). Psicopatología de la vida cotidiana. En S. Freud, Obras Completas (4ª ed.). Madrid: Editorial Biblioteca Nueva. (Originalmente publicado em 1901).

Freud, S. (1981c). La negación. En S. Freud, Obras Completas (4ª ed.). Madrid: Editorial Biblioteca Nueva. (Originalmente publicado em 1925).

Guo, Y. (2015). Constructing, presenting, and expressing self on social network sites: an exploratory study in Chinese university students’ social media engagement. Master's Thesis, Faculty of Graduate and Postdoctoral Studies (Educational Studies). University of British Columbia, Vancouver.

Hall, S. (2006). A identidade cultural na pós-modernidade (11ª ed.). Rio de Janeiro: DP&A.

Hogue, J. V., & Mills, J. S. (2019). The effects of active social media engagement with peers on body image in young women. Body image, 28, 1-5.

Kozinets, R. V. (2010). Netnography: Doing ethnographic research online. London: Sage.

Lacan, J. (1966a). Fonction et champ de la parole et du langage. En J. Lacan, Ecrits (pp. 237-322). Paris: Editions du Seuil.

Lacan, J. (1966b). La direction de la cure et les principes de son pouvoir. En J. Lacan, Ecrits (pp. 585-645). Paris: Editions du Seuil.

Lacan, J. (1966c). Le stade du miroir comme formateur de la fonction du Je telle qu’elle nous est révélée dans l’expérience psychanalytique. En J. Lacan, Ecrits (pp. 93-100). Paris: Editions du Seuil.

Lacan, J. (1985). O Seminário livro 2: o eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise (1954-55). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Lacan, J. (1999). O Seminário livro 5: as formações do inconsciente (1957-58). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Lacan, J. (2004). Le Séminaire livre X: L’angoisse (1962-63). Paris: Editions du Seuil.

Lasch. C. (1991). The culture of narcissism – American life in an age of diminishing expectations. New York, NY: Norton. (Originalmente publicado em 1979).

Maingueneau, D. (2000). Aula - Sobre o Discurso e a Análise do Discurso. Em M. Guirado (Org.), A clínica psicanalítica na sombra do discurso: diálogos com aulas de Dominique Maingueneau (pp. 21-31). São Paulo: Casa do Psicólogo.

Marder, B., Joinson, A., Shankar, A., & Thirlaway, K. (2016). Strength matters: Self-presentation to the strongest audience rather than lowest common denominator when faced with multiple audiences in social network sites. Computers in Human Behavior, 61, 56-62.

Mehdizadeh, S. (2010). Self-presentation 2.0: Narcissism and self-esteem on Facebook. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, 13(4), 357-364.

Olivier, B. (2011). Facebook, cyberspace and identity. Psychology in Society, 41, 40-58.

Riesman, D. (1995). A multidão solitária (2ª ed.). São Paulo, SP: Perspectiva. (Originalmente publicado em 1950).

Rosa, G. A. M. (2012). Facebook: negociação de identidades, medo de expor e subjetividade. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia. Universidade Católica de Brasília, Brasília.

Roudinesco, E. & Plon, M. (1998). Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar.

Santos, J. A. F. (2005). Uma classificação socioeconômica para o Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS), 20(58), 27-45.

Suphan, A., Feuls, M., Fieseler, C. & Meckel, M. (2013). The Supportive Role of Social Media Networks for those Out of Work. System Sciences (HICSS), 2013 46th Hawaii International Conference on System Sciences, pp.3312-3321.

Turato, E. R. (2003). Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa. Petrópolis, RJ: Vozes.

Uski, S., & Lampinen, A. (2016). Social norms and self-presentation on social network sites: Profile work in action. New media & society, 18(3), 447-464.

Utz, S. (2015). The function of self-disclosure on social network sites: Not only intimate, but also positive and entertaining self-disclosures increase the feeling of connection. Computers in Human Behavior, 45, 1-10.

Zhao, S., Grasmuck, S. & Martin, J. (2008). Identity construction on Facebook: Digital empowerment in anchored relationships. Computers in Human Behavior, 24(5), 1816-1836.

Downloads

Publicado

12.11.2020

Como Citar

de Barros Júnior, A. C., & Ribeiro, M. A. (2020). A Ferida Narcísica de Desempregados e a Construção de Imagens de Si nas Redes Sociais. Revista Subjetividades, 20(2), Publicado online: 12/11/2020. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20i2.e9272

Edição

Seção

Relatos de Pesquisa