Políticas Públicas Culturais para as Infâncias Cearenses: Anúncio de Novos Ventos?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp1.e8877

Palavras-chave:

infâncias, políticas públicas, cultura.

Resumo

A relação entre infância e políticas públicas brasileiras, historicamente, aparece sob a insígnia da (in)visibilidade, pela ausência de prioridade e/ou pelo fato de as crianças não figurarem nessas ações como sujeitos ativos. Este artigo discute essa relação a partir da emergência de políticas públicas no âmbito da cultura em Fortaleza, especificamente o Edital de Apoio a Projetos de Cultura Infância 2016, lançado pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult). Pretendeu-se: a) evidenciar as possibilidades de outras cenas para/com as crianças no âmbito da cultura; b) analisar as relações entre infância e cultura presentes nas propostas e c) conhecer a avaliação dos proponentes sobre o edital. Como referencial teórico, optou-se pelo campo interdisciplinar dos novos estudos da infância. Como estratégias de produção dos dados, realizaram-se entrevistas semiestruturadas com os proponentes, categorização dos formulários dos projetos e análise do referido edital. A partir da análise conjunta dos dados, pode-se perceber que a possibilidade de outras cenas para/com as crianças aparece relacionada aos diversos níveis de participação das crianças. As relações entre infância e cultura se expressam na variedade das áreas contempladas: artes visuais, teatro, dança e música, assim como na existência de diferentes formas de vinculação dos proponentes com o campo da infância. Por fim, os proponentes possuem uma visão positiva do edital, em consonância com a linguagem afirmativa das infâncias presente no documento. Concluiu-se que as relações entre infância e políticas públicas, no caso do edital, oportunizaram aos atores-adultos ampliar experiências estético-políticas junto às crianças em diversas áreas. Identificou-se, entretanto, a existência de limitações, que passam pela demora na liberação dos recursos, pela ausência de uma ação articulada entre os diversos proponentes sob a coordenação da Secult e, ainda, pela descontinuidade da iniciativa. Desse modo, a presença efetiva das crianças como agentes sociais atuantes nas cenas culturais permanece em disputa e por conquistar.

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Biografia do Autor

Erica Atem Costa, Universidade Federal do Ceara

Psicóloga, Professora do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (área: Psicologia nas Instituições e Processos Grupais). Mestre (2006) e doutora (2015) em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará. Membro do Laboratório de Pesquisa da relação, Infância, Juventude e Mídia (LABGRIM). Colaboradora do Programa de Extensão Violências, Exclusão Social e Subjetivação- VIESES/UFC, vinculado ao curso de Psicologia, do qual faz parte como pesquisadora e orientadora de ações de extensão. Interesses de pesquisa: modos de subjetivação e infâncias, processos formativos escolares ou não e análise de práticas discursivas e não discursivas. Membro do GT da ANPEPP “Relações Intergrupais: Preconceito e Exclusão Social”.

Andrea Pinheiro Paiva Cavalcante, Universidade Federal do Ceará

Professora do Curso de Sistemas e Mídias Digitais e do Programa de Pós Graduação em Avaliação de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará, pesquisadora do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia, GRIM. Concluiu mestrado (2006) e doutorado (2014) em Educação Brasileira (UFC). É co-autora do livro Qualidade na Programação Infantil na TV Brasil (Ed.Insular, 2012) e colaborou na organização das coletâneas Mídia de Chocolate: estudos sobre a relação infância, adolescência e comunicação (E-papers, 2006) e Polifonias: vozes, olhares e registros na filosofia da Educação (Editora UFC, 2005). Jornalista graduada pela Universidade Federal do Ceará (1993) e especialista em Teoria da Comunicação e da Imagem (1995). Trabalhou como repórter do Jornal O POVO e da Rádio Extra Produções. Integrou por dez anos a Rede de Comunicadores Solidários (Pastoral da Criança/UCBC). Atua, principalmente, no campo da Comunicação e Mídias, com ênfase em estudos de comunicação, infância e juventude, educomunicação, comunicação popular, comunicação em rede, estudos em mídia sonora (linguagem radiofônica e publicidade radiofônica), uso de mídias na educação e multiletramentos.

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Publicado

20.05.2020

Como Citar

Costa, E. A., & Paiva Cavalcante, A. P. (2020). Políticas Públicas Culturais para as Infâncias Cearenses: Anúncio de Novos Ventos?. Revista Subjetividades, 20(Esp1), Publicado online em: 20/05/2020. https://doi.org/10.5020/23590777.rs.v20iEsp1.e8877

Edição

Seção

Relações Intergrupais: Preconceito e Exclusão Social